quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Traços eternos

Abri o armário naquela tarde chuvosa, às roupas dele estavam ali, intocáveis, o vento que batia a janela não interrompeu o silêncio de minhas lágrimas.
As notícias sobre a guerra que nunca acabava alugaram a televisão por meses.
Era bom quando ainda me restava esperança, ao menos a esperança... Agora, eu não a tinha mais.
A notícia de que ele nunca mais voltaria me torturou como um furacão faria com uma casa de papelão. Perfurou-me como uma agulha percorre facilmente a água e faz o sangue cair da pele de um ser.
Fechei os olhos e ouvi minha respiração, era hora de escolher uma roupa, uma roupa pra cobri-lo, seu corpo já ali em minha cidade, a farda eu pedi pra que esquecessem era meu direito.
Não lembrar a guerra, nem dos tiros, bombas, nada.
Eu queria ele naquela caixa apenas como o homem por quem eu irei chorar a vida inteira, até a morte.
E assim eu o tive, na mesma noite, deitado dentro de uma caixa marrom, de olhos fechados, braços cruzados sobre o peito, era pálido e imóvel. De preto, de luto.
As palavras que me diziam não faziam sentido, e não precisavam fazer, estavam apenas fingindo se importar, a dor de verdade quem sofria era eu.
Eu sei, não posso sofrer eternamente. Passei minha mão direita, pela minha barriga, aquela criança que esperava pra nascer, eu também senti, de alguma maneira, chorava comigo.






Mais asneiras;

2 comentários:

Camila Barbosa disse...

"A notícia de que ele nunca mais voltaria me torturou como um furacão faria com uma casa de papelão. Perfurou-me como uma agulha percorre facilmente a água e faz o sangue cair da pele de um ser."
Simplesmente PERFEITO.
sem mais.

Beijos

Bruna Mesquita disse...

Pode deixar que quando postar darei creditos :D

Parece textos de mulheres que perderam seus maridos na guerra do iraque.
Imangino o quão ruim deve ser =/